colunista do impresso

Sala de audiência

Num frio corredor do Fórum, com piso brilhante e cadeiras desconfortáveis, as maiores dores da alma se encontram. Os rostos entristecidos, os gestos nervosos e a troca de palavras sussurradas revelam a importância daquele momento. São mulheres e homens que ali estão para decidir seus futuros, falar de suas intimidades, reviver seus sofrimentos. Momentos tensos e tristes.

Alguns têm o privilégio de ter ao seu lado um advogado que lhes acompanha nos momentos anteriores ao importante encontro. Outros, dependentes do atendimento judiciário gratuito, muitas vezes enfrentam sozinhos o período da espera e só conhecem pessoalmente seus defensores quando ingressam na sala.

No corredor, às vezes, estão crianças ao lado de suas mães, aguardando o momento em que conhecerão a verdade sobre sua concepção. Outras vezes, são pequenos inocentes que aproveitam o espaço e o tempo de espera para correr ao longo do corredor. Abrem os braços e dão um sorriso ao enxergar o pai, que chega atrasado e parece constrangido por ser obrigado a pagar uma pensão ao filho que lhe abraça. Alguns casais chegam acompanhados de seus novos companheiros, como se fosse necessário o testemunho pessoal de que a nova escolha amorosa vai ser oficializada, quando a antiga união se desfaz perante o juiz.

Histórias diversas, mas que naquele local têm algo em comum: a esperança de resolverem seus maiores conflitos. Frente ao juiz esperam ser ouvidos, acolhidos e atendidos nos seus anseios. Alguém com poder suficiente para resolver seus problemas e afastar os seus sofrimentos, através de uma sentença.

Quando ouvem seus nomes, num brado eloquente, saltam dos bancos onde se encontram. Um certo embaraço na entrada da sala e na definição dos lugares a serem ocupados. Olhares baixos, constrangidos, que tentam não se cruzar.

O juiz faz a pergunta usual, na busca da conciliação, que raramente é exitosa. Muitas vezes, tem que elevar o tom de voz em busca da ordem. As chamadas "partes" se submetem sem resistência. Parecem reassumir a vulnerabilidade da infância, necessitando da autoridade.

Nos litígios de família não existem vencedores nem perdedores. Os princípios do Direito prevalecem nas decisões, que são absolutamente casuísticas. Cada vida é uma vida, cada história é uma história. A estrutura judiciária e os 20 minutos oferecidos para a busca do consenso são insuficientes. O cenário físico é absolutamente inapropriado.

Atuar nas Varas de Família, seja como juiz, promotor, advogado, servidor ou integrante de equipes multidisciplinares é um exercício de amor ao próximo. Pode-se atenuar esses momentos com um acolhimento mais humano e sensível. Desde um ambiente mais propício até um simples sorriso nos lábios dos participantes da solenidade. No Judiciário vão bater os restos do amor. Que as portas que se abrem façam com que esses restos não venham a ser o combustível do ódio. Como referiu a juíza Andréa Pachá: "quanto mais afeto, maior a possibilidade de justiça".

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

1969: o ano que mudou nossas vidas Anterior

1969: o ano que mudou nossas vidas

Ambulatório não é hospital Próximo

Ambulatório não é hospital

Colunistas do Impresso